O professor Belmiro Valverde , autor do livro “O Brasil não é para amadores”, resumiu nesta conversa de 1998 como foi o fim do Ciclo do Café no Paraná..
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Belmiro Valverde.
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Na segunda metade da década de 60, durante o governo Paulo Pimentel, o senhor estava no Departamento de Trabalho, o que seria o equivalente a Secretaria de Indústria e Comércio, e lá trabalhava com a geração de empregos. Foi o momento em que começou a erradicação do café e a saída de paranaenses para outros estados.
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Belmiro Valverde – A crise do café já estava se delineando há muitos anos, porque, no Brasil, a política de café, desde o acordo de Taubaté, no começo do século, sempre foi no sentido de administrar o comércio cafeeiro. Então, o governo fazia o chamado plano de safra, ou seja, comprava todo o café produzido e depois fazia a venda no mercado externo e também no interno. O café que era entregue às torrefações era fornecido pelo IBC.
Então, o que acontecia é que o café, em termos de produto, tinha um preço político. Quando um preço internacional subia muito por causa de algum evento, de geada ou outra coisa, o governo se apropriava disso através do chamado “confisco cambial”. O governo ficava com a eufemisticamente chamada “cota de contribuição da cafeicultura”. Se a saca de café valia 200 dólares, o governo só pagava 120 à cafeicultura e ficava com 80. Em compensação, quando o café declinava de preço, a cafeicultura era apoiada pelo governo.
Em 1964, o Brasil já vivia um problema grande de estoques crescentes, pois tinha uma produção que crescia, crescia, e o mercado era mais ou menos inelástico. Quando houve o grande esforço anti-inflacionário, o Brasil tinha mais de 60 milhões de sacas estocadas para um comércio anual de 20, 20 e poucas.
Então, o governo militar resolveu levar a sério a questão da erradicação e criou uma série de estímulos para trocar café por agricultura temporária. Isso foi um grande baque para a cafeicultura paranaense, de 1965 até 1970. A cafeicultura perdeu muita vitalidade e, com a geada de 1975, entrou em declínio.
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Crescia a pecuária no interior do Paraná e isso levava ao desemprego do homem do campo, que só tinha então a cafeicultura como atividade?
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Belmiro Valverde – Exato. O café era uma cultura muito empregadora de mão-de-obra e foi substituído em um pedaço do estado pela pastagem, na região do Noroeste. Por exemplo, em Paranavaí, Rondon e Cidade Gaúcha, você via grandes extensões de terra que eram antes propriedade de cafeicultura e que haviam se deteriorado, inclusive por causa do solo.
Elas não tinham condições de competitividade e viraram pasto. Por outro lado, as culturas permanentes, como a do café, foram substituídas pelas temporárias, como a do milho e da soja, que não eram ainda nenhuma expressão no estado. Então, começou expressivamente a haver um grande fluxo emigratório dos campos para as cidades, tanto do próprio estado quanto para outros.
Fotos da época da cafeeicultura no Paraná:
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Trabalhadores na região de Rolândia PR sem data.
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Café na região de Apucarana PR.
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O trem cortando os cafezais do Norte do Paraná nos anos 1950.
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Norte do Paraná
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Paisagem típica dos “carreadores” em meio ao café na região de Londrina.
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Norte do Paraná.
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