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Uma história esquecida: A habilidade de dois pilotos, da antiga Real Aerovias, salvou a vida de 39 pessoas, entre passageiros e tripulantes, no ano de 1957. Um dos motores pegou fogo, ameaçando explodir o avião, e obrigando o avião a descer no mar, na região de São Sebastião, no litoral paulista. O caso foi raro, porque dificilmente um pouso no mar acontece sem vítimas, rompimento ou afundamento do avião. Há poucos registros de casos semelhantes a este no mundo.
Reportagem na TV Band Paraná veiculada no dia 15 de abril de 2017.
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Era uma tarde de tempo bom quando o voo da extinta Real Aerovias, com quatro motores a hélice, decolou às 15 horas do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com destino final previsto para Miami, nos Estados Unidos. Era um avião DC4, com capacidade para 54 passageiros, que levava 30 e mais oito tripulantes. E que ainda iria embarcar mais gente no Rio de Janeiro.
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O relato, só agora publicado, é de Heinz Eric, que tinha 23 anos e era co-piloto, prestes a iniciar a preparação para se tornar comandante. Na época a cabine só comportava três tripulantes. E assim, excepcionalmente Heinz deu o seu lugar, no trecho entre São Paulo e Rio de Janeiro, para um primeiro oficial e um co-piloto, que estavam em treinamento, um deles para ser comandante-mor. Heinz foi então para a a área dos passageiros, sentando-se no lado esquerdo, na primeira fila.
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Vinte minutos após a decolagem, ele se assuntou ao ver labaredas ao seu lado, em um dos quatro motores, o de número dois, perto de sua janela. E correu até a cabine para avisar o piloto. O alarme automático também começou a soar, e todos entraram em um clima de tensão. Os extintores de incêndio de bordo, que ficavam no porão, foram acionados , dirigindo o jato para o motor em chamas. Mas o fogo era muito forte, e logo o motor caiu, já que eram programados para isso, para evitar a propagação do fogo, e a explosão do avião.
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O motor que caiu ainda bateu no leme profundor do lado esquerdo, criando grande dificuldade para o controle do avião. Heinz é que ficou monitorando a situação da janela da primeira fila dos passageiros, porque da cabine o motor não era visível para o piloto. Houve um forte abalo, mas o voo continuou, como se estivesse dentro de uma área forte turbulência. Neste modelo de avião, da americana Douglas Aircraft, construído na década de quarenta, o tanque ficava na própria asa, o que aumentava o risco de explosão. Para completar a dificuldade, Heinz viu que a proteção do motor, chamada de parede de fogo da asa, já estava incandescente. Isso representava uma grande risco de fogo no tanque, o que poderia fazer o avião explodir.
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Diante disso, a sugestão dele ao comandante, foi que pousassem imediatamente no mar, pelo risco de explosão. A incandescência da chamada parede de fogo, não permitia correr o risco de seguir mais tempo voando. Heinz diz que foi sorte ter neste voo, um comandante jovem e decidido, para resolver logo fazer o pouso no mar. Isso eliminou o risco de explosão, na qual poderia não haver sobreviventes. Além disso a rota do momento era de Santos em direção ao Rio de Janeiro. E assim o avião estava sobrevoando o mar, o que possibilitava os procedimentos de pouso na água com menor risco.
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O piloto começou a baixar o avião para fazer o pouso na água. Se o pouso fosse bem feito, o avião iria boiar. Se houvesse algum erro, poderia se partir ao meio. E ainda permanecia também o risco de explosão no ar. Os passageiros foram avisados das medidas de segurança, e ficaram com os cintos apertados. O comandante teria que escolher a melhor praia para isso. E então decidiu fazer o pouso a cerca de 300 metros da praia, em paralelo as ondas, para evitar um impacto mais forte. O local escolhido nas proximidades foi a Praia da Baleia, diante da Ilha Couves, no município de São Sebastião, no estado de São Paulo.
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O avião desceu em círculos, porque não poderia baixar muito rápido. Diante da situação de grande perigo, algumas mulheres choravam. Mas a maior parte dos passageiros manteve o controle. No final o trem de pouso ficou recolhido e pouso foi perfeito. O avião deslizou sobre a água do mar. Mas ao final do deslizamento, a ponta baixou na água, voltando em seguida. Este momento foi o de maior impacto. Um passageiro apavorado havia tirado o cinto de segurança e se levantou segundos antes, sendo atirado contra a parede frontal de separação da cabine, e se feriu. O comissário, que tentava segurar o passageiro no assento, também se feriu, quebrando a clavícula. O radiotelegrafista quebrou o tornozelo, porque estava ao lado dos aparelhos de comunicação, na hora do impacto.
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A sensação, apesar de ainda estarem no mar, boiando sobre as asas do avião, foi de alívio. O avião estava inteiro e agora sem risco de incêndio ou explosão. As janelas de emergência sobre as asas tinham sido abertas, e os passageiros, com os coletes salva-vidas infláveis, saíram e ficaram sobre a asa. Ali eles esperaram, na expectativa de serem levados para a praia, a 300 metros de distância. Cerca de 15 minutos depois já apareceram pescadores da região, com barcos a remo, prontos para ajudar. E foram levando cerca de cinco pessoas de cada vez até a praia. A chegada na areia foi um momento de muita emoção, alívio e alegria para todos. E de agradecimento por estarem todos vivos.
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Meia hora depois um avião militar, que coincidentemente passava na região, viu a cena e pousou na areia da praia. Após a verificação de que a situação estava sob controle, este avião decolou, levando o comandante do avião da Real para São Paulo. Era um caso novo, ainda não registrado na história da aviação brasileira, com um avião de grande porte. E a empresa, junto com a Aeronáutica, procurou uma solução para o transporte de passageiros até São Paulo. Em 1957 ainda não existia a estrada Rio Santos nesta região. E havia muito isolamento na faixa litorânea.
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Um pequeno barco cargueiro, de nome Itanhaém, foi contratado. A embarcação saiu de São Sebastião e foi até a Praia da baleia. Este barco cargueiro, que veio buscar o grupo, só chegou ao local às duas da madrugada. Com um barco menor, de remo, os passageiros e os oito tripulantes foram levados até o barco. E a seguir o cargueiro foi para Santos, onde só chegou depois de 8 horas. No Porto de Santos já havia um ônibus especial esperando pelo grupo, que levou todos para São Paulo. Eles foram hospedados em hotel na Praça da Bandeira. E todos os custos foram cobertos pela Real Aerovias. Só o telegrafista ficou na Santa Casa de Santos, para tratar o tornozelo quebrado. Na televisão paulista havia um programa noturno ao vivo. Era o “Jantando com as Estrelas”. Todos os tripulantes foram chamados para dar entrevistas no programa.
Naquela época os pilotos, quando sofriam acidentes, já passavam por testes psicológicos por dois dias, para avaliar se tinham condições de continuar voando. Ninguém foi reprovado, e todos os quatro aviadores continuaram na empresa. Um fato curioso foi que o passageiro, que se levantou assustado perto da momento do pouso, levou depois uma medalha de ouro personalizada como agradecimento para cada um dos tripulantes. E o próprio presidente e fundador da Real Aerovias, comandante Linneu Gomes, reconheceu que a ação correta e rápida dos pilotos salvou a todos.
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Depois do acidente, Heinz Eric continuou na aviação, passando a comandante de voo. No total foram 8 anos de aviação, onde ele se tornou comandante de voos nacionais. E só deixou a atividade quando a Real Aerovias entrou em crise, no ano de 1960. Foi quando ele decidiu ir para a Alemanha cursar Engenharia Mecânica. Ao voltar para o Brasil, 5 anos depois, foi para a área mecânica industrial. Ele tornou-se gerente de engenharia de uma fabrica internacional de motores em São Paulo, onde ficou mais 33 anos em atividade.
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Heinz Eric hoje é um curitibano por adoção, morando na capital paranaense há 15 anos. Ele está com 82 anos, lê muito, pratica exercícios rigorosamente e gosta de viajar. No momento está na Europa, onde moram seus dois filhos com as famílias. Um é engenheiro mecânico e outro administrador de empresas, trabalhando em grandes empresas alemãs. Heinz nunca se interessou em registrar este caso. Mas agora, que está escrevendo um livro biográfico para deixar para os filhos e netos, resolveu nos contar esta história.
José Wille
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OBS: Canais e revistas estão reproduzindo esta publicação original sem dar os créditos ao Portal Memória Brasileira, que pesquisou e trouxe o tema pela primeira vez. Dar créditos à fonte é o mínimo ético esperado na área de Comunicação.
Exemplos já encontrados:
-Alexandre Saconi para o UOL
-Lito Sousa do canal “Aviões e Músicas”
-Tamoio News
-waves.com.br
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