Home Memória Brasileira As invasões holandesas no Brasil

As invasões holandesas no Brasil

0

As invasões holandesas foram motivadas pela disputa pelo comércio do açúcar, tiveram avanços notáveis sob Nassau, mas acabaram derrotadas pela resistência luso-brasileira, marcando a história do Brasil colonial.

 

Local onde surgiu a primeira ponte do Brasil, no Recife. Imagem: Frans Post/Reprodução./

 

As invasões holandesas no Brasil, ocorridas no século XVII, fazem parte de um dos capítulos mais complexos da história colonial. Elas resultaram de disputas econômicas internacionais, tiveram impactos locais profundos e terminaram com a expulsão definitiva dos holandeses em 1654.

O principal motivo das incursões holandesas estava ligado ao controle do comércio açucareiro, então a mercadoria mais valiosa do mundo. O açúcar produzido no Nordeste brasileiro abastecia a Europa e era transportado em grande parte por navios e capitais holandeses, mesmo sob domínio português.

Com a União Ibérica (1580-1640), quando Portugal e Espanha ficaram sob o mesmo rei, os Países Baixos, que estavam em guerra contra a Espanha, perderam privilégios comerciais em portos portugueses. Isso levou os holandeses, organizados pela Companhia das Índias Ocidentais (WIC), a buscar o controle direto de áreas produtoras no Brasil.

As primeiras investidas aconteceram em 1624, quando Salvador, a capital do Brasil, foi tomada. A ocupação durou apenas um ano, sendo os holandeses expulsos por uma aliança luso-espanhola.
O esforço mais duradouro veio em 1630, quando invadiram Pernambuco, o coração da produção açucareira, e conquistaram Olinda e Recife.

A partir daí, expandiram sua presença para partes do atual Nordeste: Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Sergipe. O domínio holandês durou cerca de 24 anos (1630-1654), sendo Recife transformada em capital administrativa do Brasil holandês.

Durante o governo holandês, destacou-se a administração do conde Johan Maurits de Nassau (1637-1644). Ele buscou consolidar o domínio com medidas pragmáticas:

-Incentivou tolerância religiosa, permitindo católicos, protestantes e judeus.

-Promoveu melhorias urbanas em Recife, como canais e obras públicas.

-Trouxe artistas e cientistas para documentar o Brasil, como os pintores Frans Post e Albert Eckhout, além de naturalistas que registraram fauna, flora e costumes. Apesar disso, a economia açucareira sofreu dificuldades, pois parte da elite local resistia à presença estrangeira.

A resistência luso-brasileira ganhou força com as revoltas locais, como a Insurreição Pernambucana (1645), marcada pelas Batalhas dos Guararapes (1648 e 1649). Essas lutas reuniram colonos portugueses, indígenas e africanos, num movimento considerado por muitos como embrião da identidade nacional.
Finalmente, em 1654, os holandeses foram derrotados na Batalha dos Guararapes e expulsos de vez. O conflito foi formalmente encerrado em 1661, com o Tratado de Haia, pelo qual Portugal pagou indenização à Holanda.

Consequências

A saída dos holandeses consolidou o domínio português no Nordeste, mas deixou marcas duradouras:

Desgaste econômico, já que engenhos foram destruídos e a produção açucareira perdeu competitividade para as Antilhas, também exploradas por holandeses e ingleses.

Fortalecimento da elite local, que havia se unido contra o invasor e ganhou maior protagonismo político.

Legado cultural e científico, com registros artísticos e estudos sobre a natureza brasileira.